Esse depoimento é perfeito para começar a discussão.
O trabalho do professor, apesar de por muitos ser considerado "tomar conta de criança" é muito mais refinado do que se espera. É um trabalho, acima de tudo, educacional. Para tal, exige planejamento, além de tempo e muita disposição, pois dar uma boa aula (e sou prova disso) exige a atenção do professor o tempo inteiro a cada aluno. Vá, para que algum empresário me entenda, é como se você tivesse que verificar o trabalho de 30 funcionários ao mesmo tempo, verificar o seu entendimento sobre o que estão fazendo e se estão produzindo (no caso da escola, se estão produzindo conhecimento). Tudo isso no mesmo tempo no horário de meio período, sendo que há história, geografia, matemática, português, ciências (para os pequenos), biologia, química, física e ciências sociais para serem ensinados. E a escola deve garantir que esses alunos aprendão, se não seus direitos não estarão sendo cumpridos.
Ufa! Acabei de escrever.
Entende? Para o professor conseguir o seu papel, como falei, precisa planejar (e ter tempo para tal), e disposição para executar!
Apesar de não ser reconhecido, o professor, como o meu antigo professor de filosofia (Marcos) dizia, deve ser um intelectual. Sem esse trabalho refinado, a educação será falha, é óbvio! Pois a tarefa de ensinar e fazer com que os alunos entendam é demorada e exige grandes conhecimentos sobre como isso ocorre (para que todos sejam incluídos - post "A Escola pra Todos") e TEMPO. Sem tempo, o professor não descansa, não planeja uma boa aula e não analisa a sua aula. E não é uma boa realidade a que temos na escola pública, como vimos no depoimento da professora Amanda Gurgel.
A realidade que temos, infelizmente, é que o professor de escola pública, com esse salário ridículo, tem que trabalhar dois ou três períodos para ter uma vida digna, e sabemos que em São Paulo viver está cada dia mais caro. Eu que o diga, pois agora, planejando um futuro, estou vendo que posso passar por muitas dificuldades. Portanto, o professor chega em casa exausto, depois de dar aula em duas escolas, depois de passar o dia gritando com os alunos em sala de aula, já que não tem tempo pra pensar de um jeito melhor de chamar sua atenção, depois de perder o bônus porque não conseguiu alcançar uma nota melhor do que no ano passado, e o que você espera que ele faça? Ligue a TV para se desligar, é óbvio! E o planejamento da aula, tchau!
Quando você está cansado, trabalhou o dia inteiro, o tempo inteiro, qual é a sua vontade de trabalhar mais?
Do jeito que as coisas estão organizadas, a carreira que não melhora quase nada horizontalmente, o professor é obrigado a trabalhar o dobro do que deveria (sem contar que tem que corrigir provas em casa - e que deveria planejar as próximas aulas, sem falar em estudar continuamente a matéria que vai dar para os alunos, que esqueci de falar; porém dessa forma que vimos, é humanamente impossível). E o seu trabalho pedagógico é mal-feito, e as crianças de escola pública têm uma péssima educação de qualidade, e é aumentada a dualidade do ensino (sim, esse termo é decorrente nesse blog). Porque todos deveriam ter direito a uma educação de qualidade, para a vida, e sabemos que isso não acontece. E queremos mudar essa realidade! E sempre comentamos que o ensino público brasileiro é ruim.
Mas, infelizmente, sem a conscientização da população (vide post "A Escola Democrática), essa realidade não poderá ser mudada. Precisamos de todos na luta a favor da qualidade da educação na escola pública!
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