Ontem me aconteceu algo que me deixou muito perturbada. Não só por terem tentado me ofender pessoalmente, mas porque, bom, não adianta adiantar. Vou contar mais ou menos como foi...
Estava eu, saindo do coral (que foi o máximo), indo comer uma tapioca com o pessoal do coral. Uma menina estava com uma daquelas camisetas de evolução, e eu pedi para ver. A camiseta era uma "desevolução", o homem ia abaixando, até ficar de joelhos, rezando, e no final tinha uma cruz. A legenda era: "evolução". Minha reação foi dizer "ah". Sabe, não fui muito convincente, até porque não sou boa nisso. Me preocupa pessoas religiosas demais, a religião interferindo no Estado e tirando direitos das pessoas, como a liberdade de serem homossexuais. Ou de não serem virgens. Enfim, por isso disse "ah". Mas a minha colega, que apesar disso era bem simpática antes, mudou muito, e começou a dizer que eu achava nada demais, que achava ridículo, ou algo assim, etc, etc. Quando fui explicar que não era religiosa, por isso a minha reação, ouvi: "é, eu poderia ter dito "ah" quando você disse que fazia pedagogia, mas eu não fiz isso".
Sim, se você está tão chocado quanto eu, acho que ainda terei esperança no mundo, porque isso faz a gente desanimar um pouco. Sobre isso, refleti sobre os motivos para uma pessoa dizer "ah" quando você diz que faz pedagogia e cheguei a uma conclusão:
- Você diz "ah" quando se imagina no lugar dessa pessoa, professora, ganhando mal para, desculpe, caralho, se esforçando muito e tendo quase nada em troca.
Porque eu não acho que "ah" signifique "acho que professores são inúteis no mundo": simplesmente porque a educação é a área em que as pessoas mais colocam fé (desculpe o trocadilho) que poderá fazer uma mudança, no nível do sujeito ou no nível do mundo. Enfim, não preciso nem comentar todos os aspectos educacionais da religião, porque você vai ser educado na Igreja, por mais que não perceba.
E isso me deixou muito triste. Ia até escrever sobre outro assunto hoje, mas não consegui. Porque isso mostra claramente a desvalorizaçãodo professor. Por mais que se "tenha fé" nele, não vale a pena que ele ganhe bem, é "só um professor". É "só cuidar de criança". Bom, novidadeee! Não é isso! É só ler algumas postagens que já dá para perceber a complexidade ética, política, didática, est, etc, da educação! O curso de pedagogia, em si, já está muito desvalorizado, justamente por esse impacto que causa na sociedade.
Fico de luto quando vejo pessoas que pensam assim, pois estão matando o professor. Estão matando a educação.
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Oi Taís,
ResponderExcluirAcho que entendo um pouco você. Muitas vezes bate um desanimo quando vemos que o que fazemos, por mais importante que seja, não é valorizado. Se pedagogia é assim, imagine filosofia. Muitas vezes ouvi dizer que filosofia não dá futuro e fiquei pensando qual é a idéia de futuro para as pessoas. Mas enfim, o que quero dizer é que essa tristeza, para mim pelo menos, é mais um sentimento proveniente da incapacidade do outro entender a importância do que fazemos, do que um sentimento de culpa sobre a importância do que fazemos. Continue escrevendo, aprendendo e lecionando, o que você faz é um alento para que esse sentimento de angústia diminua.
"Ah" (ahahaha), achei seu blog. Está muito bom.
Beijos,
Michel
Ta,
ResponderExcluirvocê já tinha me contado essa história. E queria dizer: agora, por coincidência, o seu blog estava aberto na minha frente, quando minha empregada comentou toda feliz que tem um novo projeto do governo que se chama "Alavanca", que dá uma bolsa para os "melhores" alunos irem estudar na Itália. Ela estava super empolgada porque a professora disse que a filha dela tinha muitas chances de conseguir essa bolsa, mas para isso ia ter que entrar num grupo privilegiado de alunos que iam estudar em período integral, de manhã e de tarde. A filha dela tem oito anos agora, e conseguiria o intercâmbio com doze.
Não consegui dizer nada diante do orgulho da minha empregada, orgulho que por um lado tem sua beleza, orgulho que remete à uma esperança de que para a filha dela as coisas sejam diferentes, a esperança de que a filha dela "estude" e vá para a universidade... Mas fiquei pensando como esse projeto do governo é sintomático.
As nossas crianças tem que ir para a Itália para receber uma boa educação? O que aconteceu com a situação do Brasil? Um grupo privilegiado de alunos tem direito ao "bonus" de uma educação melhor, educação essa que só se encontraria na Itália (ah, não, é claro, como pude me esquecer, tem as escolas particulares também, dur...)? A educação brasileira então não só não vale nada, não só não tem "status", quanto também não tem mais solução? Parece que é isso que está implícito quando governo investe em projetos assim...
Olha, eu NÃO sei nada sobre esse projeto além do que a minha empregada falou rapidamente, não sei nem de que governo ela está falando, se é o municipal ou o estadual... Portanto, desculpe se estou sendo injusta ou falando alguma besteira.
Só queria dizer para você não desistir, porque sem gente como você, essa desvalorização do ensino vai continuar. E concordo com o comentário acima, é difícil quando não reconhecem a importância do que a gente faz. Eu não posso dizer que o preconceito com psicologia seja o mesmo que existe com pedagogia, mas acredite, existe sim um preconceito até com psicologia. O pai de uma grande amiga minha vive me dizendo: "você é tão inteligente, ainda vai mudar para administração de empresas". E ouço coisas como: "Pelo menos você pode ir para o setor de RH, dá um pouco mais de dinheiro". Eu te contei que quando a gente foi pedir dinheiro no pedágio, no nosso trote (sem entrar no mérito se pedir dinheiro no pedágio é válido ou não), ouvi comentários como: "Você entrou na Usp? Em que? Medicina? Direito? ... Ah, psicologia, toma, você vai precisar de dinheiro mesmo..". O.O
Quanto à questão religiosa, é complicado. Eu adoro religião, acho que esse fanatismo é uma distorção. Outro dia li o pastor evangélico mais influente do Brasil falando sobre homossexualidade. Foi nojento, sério!! Ele disse que era uma distorção de conduta e que homofobia não existia, entre outras coisas. Quando perguntaram para ele o que ele faria se um neto ou filho dele fosse gay, e ele disse: "Olha, eu não deixaria de amar meu filho se ele fosse um serial killer, só que diria que a conduta dele está errada". Tipo, quê???
Enfim, escrevi um comentário quase maior do que o seu post, desculpa! :/ E nem sei como concluir isso. Enfim, que fique como colocações desconexas...
Marina Lavrador
Má,
ResponderExcluirPrimeiro, não importa o tamanho! Quanto mais conteúdo para discutirmos melhor!
Segundo: assino embaixo! É absurda a nossa educação pública... Agora eu gostaria de entendê-la melhor. Tem um professor que defende (mais ou menos) que o problema da educação pública no Brasil é o jeito que ela é feita. Ele já deixou a entender que se a educação fosse pensada para o público que a teria, ela seria aceita e construída com eles. Eu ainda tento entender esses assuntos, que hoje acho que tem a ver com o Paulo Freire, e não sei ainda se concordo ou discordo. Mas isso foi só um exemplo de muitas discussões que há (que deveriam ser mais e mais profundas, na minha opinião) sobre o problema da qualidade na escola pública. Sua origem, motivo, etc, etc.
Enfim, esse mesmo papinho de "você é inteligente" muita gente da pedagogia também ouviu, e fico impressionada como também está presente na psicologia... Não tinha ideia que também era assim! Acho que ele mostra os valores do homem ideal da nossa sociedade, ele deve ser rico e... rico. É, realmente parece que chegamos a esse ponto.
Sobre a questão da religião, é bem delicada pois chegamos na questão de fé. Pra mim, o problema é quando a religião começa a impedir a liberdade dos sujeitos, como aconteceu nesse texto que você leu. É um controle ideológico ainda mais perigoso pois não é como a "ciência" (que, infelizmente, está sendo transformada em inquestionável), que permite questionamentos, mas é um controle ideológico pela fé, que, na minha opinião, me corrija se estiver errada, permite muito menos diálogo.
Acho que é isso que queria pontuar...
Taís